“Divertida Mente 2” se tornou o filme de animação mais lucrativo da história, arrecadando bilhões nas bilheterias em um verão que também viu o sucesso estrondoso da quarta parte de “Meu Malvado Favorito”. O público se encantou novamente com as narrativas emocionantes e personagens cativantes que esses filmes de animação oferecem. No entanto, apesar das celebrações pelo sucesso comercial, o futuro desse gênero artístico enfrenta sérias incertezas, principalmente devido à crescente ameaça representada pela inteligência artificial (IA).
Jeffrey Katzenberg, ex-presidente da Disney e criador da DreamWorks, fez uma declaração alarmante no ano passado, afirmando que o avanço da IA pode potencialmente destruir até 90% dos empregos artísticos na indústria da animação. Essa previsão sombria levantou preocupações em toda a comunidade criativa, que teme pelo impacto que essas tecnologias emergentes podem ter sobre o trabalho humano.
A preocupação de Katzenberg não é infundada. Nos últimos anos, a IA tem se tornado cada vez mais presente em diversas áreas, incluindo a animação. Ferramentas baseadas em IA já são capazes de criar animações simples, gerar personagens e até mesmo desenvolver roteiros básicos. Com o tempo, essas tecnologias poderão se aprimorar a ponto de substituir muitas das funções que atualmente são desempenhadas por artistas, animadores e roteiristas humanos. A automação dessas tarefas pode levar à perda massiva de empregos e à desvalorização do trabalho criativo, que sempre foi o coração da animação.
Mas essa não é a única ameaça enfrentada pela indústria. Outros fatores, como os despedimentos em massa, também estão colocando pressão sobre os profissionais da animação. Em maio deste ano, a Pixar, um dos estúdios mais renomados do mundo, anunciou a demissão de 14% de seus funcionários. Essa decisão chocou a indústria, levantando dúvidas sobre a estabilidade dos empregos, mesmo em empresas de grande porte e com um histórico de sucesso.
Além disso, o teletrabalho, que se tornou uma prática comum durante e após a pandemia, tem contribuído para a sensação de isolamento entre os funcionários juniores. A falta de comunicação direta e presencial entre os cargos superiores e os funcionários menos experientes pode dificultar o desenvolvimento de talentos e a colaboração criativa, aspectos essenciais para a criação de animações inovadoras e de alta qualidade.
Diante dessas ameaças, surge a pergunta: existe uma solução? Alguns trabalhadores do setor explicaram ao EL PAÍS que, apesar do avanço da IA, muitas das funções que desempenham ainda são insubstituíveis por máquinas. Essas funções envolvem tarefas criativas, correções detalhadas e a capacidade de trazer nuances emocionais para os personagens e as histórias, algo que a inteligência artificial ainda não é capaz de replicar com perfeição. No entanto, esses profissionais concordam que é crucial que haja uma regulamentação adequada do uso da IA na animação, para garantir que ela complemente o trabalho humano em vez de substituí-lo.
A regulamentação poderia incluir medidas como a garantia de que a IA seja utilizada para automatizar apenas tarefas repetitivas e de baixo valor criativo, enquanto os aspectos mais artísticos e inovadores do processo de animação permaneçam nas mãos dos seres humanos. Além disso, seria importante promover a colaboração entre humanos e IA, de modo que essas ferramentas possam ser usadas para aumentar a eficiência e a criatividade, sem eliminar a necessidade do talento humano.
Embora o futuro da animação esteja repleto de desafios, a comunidade criativa tem o poder de moldar esse futuro de maneira que a tecnologia e a arte possam coexistir harmoniosamente. A chave para isso será a adaptação, a inovação contínua e o estabelecimento de diretrizes claras sobre como a inteligência artificial deve ser integrada ao processo de criação artística. Com uma abordagem equilibrada, é possível que a animação continue a evoluir e a encantar o público, sem perder a essência criativa que a torna única.